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Reflexão, diálogo e a finalização do processo psicoterapêutico



Quando alguém me diz que está feliz, geralmente relata sobre os modos de agir que conferiram com o seu desejo de ser. Fazer, ter ou ser são categorias ontológicas que perpassam as noções sobre nós mesmos. Tais noções estão respaldadas pela práxis que envolve o movimento de subjetivação e objetivação. As conquistas e superações vividas pelo orgulho, tranquilidade, alegria e segurança referem-se a estas três categorias e novas formas de subjetivar-se e objetivar-se nos mais diversos contextos e em situações específicas.

No início do processo psicoterapêutico as queixas versam sobre o que não se sabe ou consegue fazer, ser ou ter; insatisfações das mais diversas sobre o que se faz, tem ou é; ou o que precisará fazer, ser ou ter. Aí ancoram-se a ansiedade ou depressão, o desespero, o desamparo e a angústia. Também o medo, a tristeza e a ira. Enfim, todas as emoções, reminiscências e antecipações que alicerçam a insegurança, autodepreciação e solidão.  

O processo psicoterapêutico se desenvolve a partir do vínculo entre psicoterapeuta e cliente. Ao longo dele, o cliente passa a conhecer as vivências inviabilizadoras. Na medida em que atuo em psicoterapia para que o paciente reflita sobre suas experimentações: emoções, reminiscências e antecipações; o conhecimento sobre si se desenvolve. Inicialmente, localizado social e historicamente, para fundamentar-se nas relações concretas com o tempo, o outro, o mundo e o próprio corpo

Com este esclarecimento é cada vez mais provável que o cliente se localize diante das situações em que sucedem as experimentações inviabilizadoras de seu desejo de ser. Assim, passa agir de modos atuais, diferentes do modo de agir que nutria aspectos de sua dinâmica de personalidade que compunham o sofrimento psíquico.

Como eu escrevi em outro lugar: “O sofrimento psíquico, constituído ao longo da vida, torna-se presente sendo experimentado como determinação, sobretudo em personalizações cujos estados afetivos são qualificados como psicopatologias (ansiedade, depressão, transtorno obsessivo compulsivo etc.). É a força do passado sobre o presente.” Na medida em que se compreende como as situações se armaram, localiza-se sobre sua historicidade, assim, as projeções de um futuro tornam-se mais fortes do que as antecipações catastróficas e o peso do passado.

            Uma das conquistas do processo psicoterapêutico é relatada da seguinte forma: diante da situação “x” dialogo comigo mesma. Neste diálogo, a pessoa revisita as formas comuns de agir num passado recente, o que não quer mais para si mesma e atua de forma atual e criativa, muitas vezes não prevista. Neste sentido que a reflexão ocorre e experimentações de orgulho por ter conseguido tornam-se frequentes.

Para isto, houve um trabalho amplo em sessões de psicoterapia, às vezes, poucas sessões, mas, em geral, depois de muitas sessões. Importante observar que, pela minha experiência como psicoterapeuta, tanto faz se as sessões ocorrem on-line, presencialmente ou de modo híbrido. Entretanto, haverá mais ou menos diferença de acordo a preferência do cliente, como se sente à vontade e se vincula.

A mediação que uma psicoterapia existencialista proporciona se estende para outras relações. As pessoas precisam das outras para seguirem seu próprio caminho. A segurança de ser nos relacionamentos é uma experimentação preciosa. Ela se dá a partir da vivência de laços verdadeiramente amorosos, de amizade e realização.

Os relacionamentos em que as ações proprorcionam prazer, amar e se sentir amado, ser mediado para aventuras, gostos e trabalho oportunizam as experimentações de esperança, otimismo e motivação. Igualmente, vivenciando-se uma mediação para o outro. A meu ver, esta é a trajetória possível para ser feliz. Jean-Paul Sartre já nos disse: realizamos nosso projeto de ser no mundo juntos com os outros. Se o mundo não nos apresenta as possibilidades de ser felizes, certamente, é preciso transformá-lo. Até lá, lidamos e construímos nossos possíveis com o que temos.

           

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