A escolha faz parte de todas as circunstâncias de nossa vida. Inicialmente, elas estão dadas, pois nascemos num contexto configurado historicamente e escolhido pelos outros. A medida que nos desenvolvemos aprendemos a nos considerarmos como um EU. Todos devem lembrar ou testemunhar crianças que referem a si mesmas na terceira pessoa. Em vez de dizerem “eu fiz... eu quero... o meu lanche...”, dizem “o Pepe fez um desenho, o Pepe quer passear, o lanche do Pepe”. Aos pouco a referência de ser seu próprio corpo, vivenciar-se com um futuro e ter uma história, lidar com os objetos do mundo (alimentos, brinquedos, roupas) vai se tornando um projeto cada vez mais pessoal, em vez de ser uma demanda externa de seus educadores(as) e cuidadores(as).
A infância é o tempo perfeito para aprender a escolher e lidar com as possibilidades e as consequências. Mas, nem sempre esse aprendizado ocorre. Podemos crescer sem constituir certa segurança para fazermos nossas próprias análises e, assim, fundamentarmos nossas próprias escolhas.
O mundo social, de alguma forma, sempre cobra sua conta. Impõe necessidades, desde as mais básicas até as mais complexas. Será preciso provir tais necessidades, ar, alimentos, água, proteção e conforto adequado para a vida, isto é, as condições de possibilidade para se obter os elementos básicos que, geralmente, se dão por meio do trabalho assalariado.
O trabalho, como uma ação transformadora, produz valor. É a subjetividade humana, com sua força, criatividade e afeto que se objetiva e gera todos os benefícios e malefícios da vida social, desde a alimentação comercializada no mercado até a poluição de uma nascente. O trabalho é sempre social e suas modalidades sevem a um modo de produção e organização social.
Nestes modelos, desde cedo somos preparados para trabalhar. Mas quando jovens certas escolhas se impõe, comumente vividas como definitivas. Caso precisemos ganhar a vida ainda jovens, logo nos damos conta das reais possibilidades de emprego e salário oferecidas no campo social.
A cada geração algumas profissões se sobressaem. Isso depende do desenvolvimento tecno-científico; da condição de qualidade de vida da população se vai necessitar mais ou menos de profissionais de saúde; da condição de segurança pública e jurídica saberemos se uma nação precisa de mais ou menos pessoal nos sistemas; se uma população é mais jovem ou idosa poderemos definir se é necessários mais escolas ou previdência social voltada para idosos(as) e assim por diante. Todas essas profissões e como se inserem no campo social de acordo as demandas da sociedade serão viabilizadas também por políticas públicas. Por exemplo: num país em que há subnutrição infantil haverá um sistema público e profissionais para lidar com isso? Quais tipos de decisões envolve toda uma sociedade?
Parece ser saudável, sobretudo em termos de saúde psíquica, sabermos como decidimos o que é bom para nós e para nossa sociedade. Como adultos, as demandas sociais também batem a nossa porta como nossa responsabilidade. Passamos a decidir o projeto de uma país através do voto e de nossa participação na comunidade seja através de partidos políticos seja por meio de variadas formas de associação. Nos associarmos está, inevitavelmente, implicado no presente e no futuro que queremos. Já que o passado está dado.
O campo dos possíveis social conforma nossas escolhas. Mas nossas escolhas políticas podem abrir o campo dos possíveis na medida em que a política viabiliza certa organização social e o clima dos valores. Trata-se do movimento dialético. Nada está determinado pelo passado.
Neste sentido que podemos afirmar que a política influencia na saúde psíquica. Sentimos quando nosso futuro está viabilizado socialmente ou está obliterado, ou ainda, que encontramos mais ou menos impasses para realizar nossos sonhos amorosos, de aventura como uma viagem, andar em segurança numa rua escura, não ter medo de sofrer violência etc. Esses sentimentos de medo e insegurança é que nos oferecem o clima da sociedade. Vividos na solidão podem compor certo sofrimento psíquico, como a depressão ou a ansiedade. Por isso, escolher não diz respeito somente ao indivíduo, mas ao modo como uma sociedade se estrutura organizativamente e também emocionalmente.
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