Quando marcamos a primeira sessão com uma psicóloga, em geral, estamos emocionalmente frágeis. Vivências que compõe a ansiedade, a depressão e ideação suicida podem advir de anos a fio, constituindo assim a nossa personalização ou um conjunto de vivências novas contextualizadas por acontecimentos recentes. Em todo caso, há um desejo aí nesta procura por uma psicoterapia. Qual o desejo? Lidar com o sofrimento psíquico? Superar o sofrimento e obter mediação para fazê-lo? Ser apenas ouvido(a)? Etc.
Certamente o desejo que nos motiva a procurar uma psicoterapeuta é bastante singular, entretanto, iniciar um processo psicoterapêutico é começar um projeto, verdadeiramente, conduzido a princípio pela profissional de psicologia, que viabiliza a compreensão de nosso próprio processo até que este se torne autoral. Enfim, a finalização da psicoterapia pressupõe certa experiência de ter nossa história na mão e nosso ser e nossas responsabilidades restaurados. Mas até chegar neste ponto haverá um longo caminho que se traduz em horas de psicoterapia.
As entrevistas iniciais constituem o início do processo psicoterapêutico. Nelas o vínculo entre psicoterapeuta e cliente irá ocorrer. O acolhimento e a vivência de ser entendido parecem ser fundamentais neste primeiro contato que envolve uma certa explicação sobre a metodologia e acordo sobre os honorários da psicoterapeuta e a frequência às sessões (quantas vezes por mês). Na primeira sessão, além do vínculo, um contrato de prestação de serviço é firmado. Contratamos os serviços de uma profissional de psicologia, a quem atribuímos a nossa confiança e, muito mais que isso, nos mostramos em nossa fragilidade.
Diante de nossa fragilidade, sofrimento e angústia esperamos encontrar em nossa primeira sessão de psicoterapia alguém que possa nos ajudar. Parece que fica no horizonte da relação com a psicoterapeuta, como pano de fundo mesmo, o método e a teoria operados por ela. No entanto, a condução de uma psicoterapia por uma psicóloga existencialistas tem seus traços teóricos e metodológicos especiais. No seu início, como é próprio dos profissionais de saúde em geral, destaca-se o acolhimento e, especificamente a teoria existencialista elege como fundamental numa relação profissional conosco, clientes, a mediação. Acolher significa aceitar o(a) cliente na sua condição, sem julgamento, apenas ouvir sua história, as suas dificuldades, auxiliar no entendimento sobre seu problema e encaminhar o projeto terapêutico adequado, que pode ser multiprofissional. Mediar significa viabilizar o entendimento sobre suas possibilidades em lidar e superar as questões problema ou demandas esclarecendo, igualmente, sobre as perspectivas resolutivas mais imediatas.
As mudanças iniciais são sutis, um leve ânimo há muito não vivido, um quê de esperança num relacionamento esquecido, uma nova confiança num fazer profissional antes posto em dúvida... e por aí vai... Importante mesmo quando sentimos que encontramos acolhimento e mediação para a realização de nosso desejo de ser numa prática cotidiana.
A psicoterapia existencialista prima pela mediação, isto é, a psicóloga torna-se uma mediação para nos experimentarmos autônomos (as) e constituir-nos seguras (os). Como isto ocorre? Pelo simples fato de que nesta metodologia propõe-se a condução da condição reflexiva a partir da situação singular contextualizada no campo de possíveis (histórico e social). Por exemplo, a verdade das emoções, inclusive àquelas que são inviabilizadoras, como no caso do estado de ansiedade, é compreendida, pois, além de constatá-la, podemos nos sentir confortáveis para agir sobre a situação e modificá-la ou lidar com ela, depende do contexto. De qualquer modo, a ação em modificar ou lidar etc. é inerente a nossa liberdade, portanto, nossa escolha.
Mas, creio que uma característica importante da psicoterapia existencialista que logo na primeira sessão agente nota é a forma como o diálogo progride. A descrição e a análise são comumente desenvolvidos neste tipo de psicoterapia, o que pode ser um grande diferencial para quem já tem uma vivência ou leitura sobre outras práticas psicoterapêuticas ou analíticas. Para quem não tem tudo é novidade. Em todo caso, se nos dispusermos a pensar um pouco sobre a psicologia podemos facilmente entender que a técnica de entrevista implementada pela psicóloga existencialista (que parece mais uma conversa, um bate-papo) tem como fundamento a noção de que o pensamento e a linguagem andam juntos. Por isso falamos muito sobre as situações em que nos emocionamos, interpretamos, imaginamos, antecipamos, refletimos etc.
O que esperar de uma psicoterapia conduzida por uma psicóloga existencialista? Acredito que podemos esperar com tranquilidade, acolhimento e mediação com responsabilidade profissional pautada no conhecimento teórico e metodológico. Uma perspectiva científica sobre o sofrimento humano operada no campo humanista no contexto psicoterapêutico. Creio que seja um ponto de partida sobre o que podemos esperar.
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