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Estamos vivos, optemos pela vida!

Atualizado: 13 de abr. de 2024

O surgimento e a rápida expansão do novo corona vírus marca nossa história. Nunca vimos um número de adoecimentos e mortes em tão curto espaço de tempo e em escala mundial. Certamente o medo de contrair o vírus e da imprevisibilidade da reação orgânica que pode-se ter está diretamente relacionado a esta pandemia. Mas, de algum modo, o medo pode ser suplantado pela insegurança implicada pela carência de políticas socais e de saúde pública para lidar com a pandemia de modo eficiente para as pessoas. A defesa do sistema público de saúde ganha a sua importância ainda mais concreta.

Aprendemos que uma pandemia ocorre de tempos em tempos e que o Covid-19 não é o pior vírus que podemos esperar. Aprendemos também a importância do Sistema Público e Gratuito de saúde em que a universalidade ganha novos sentidos, porque de algum modo, o vírus atinge a todos, mas descobrimos que a forma de organização social e poder econômico hierarquiza quem poderá ser tratado e quem não poderá; quem terá acesso a equipamentos de segurança como máscaras, e; quem terá uma morte digna. Vimos que o sistema público universal é o mais eficiente e que a pesquisa em universidades públicas poderá favorecer a todos e todas com as descobertas sobre tratamentos e vacinas. Tudo isso num contexto político em que os sistemas de saúde da maioria dos países e a ciência e a pesquisa que lhes dá sustentabilidade tem sido desvalorizados tanto no que se refere a cultura quanto ao financiamento.

Fomos então confrontados em optar entre a economia ou vida para escolhermos um modo de agir. Como não conhecemos adequadamente a história das epidemias e pandemias, das formas de lidar com elas e como se desdobrou em estratégias mais adequadas em lidar com elas, ficamos a mercê de nossa própria experiência e como nos sentimos em nossas cidades, das possibilidades que temos de atendimento médico, adquirirmos equipamentos de segurança, ficar em casa ou termos que sair e trabalhar. O fato de muitos de nós saberem muito pouco sobre a história das pandemias e a perspectiva científica sobre o Covid-19 e as metodologias de vigilância e previsão torna-se um terreno fértil para o obscurantismo e que a escolha entre a economia ou a vida faça sentido. Mas de fato faz?

Já vivemos num mundo onde a vida serve à economia. Onde a crise econômica é cíclica e as tragédias são oportunas para quem delas sabe tirar proveito e lucrar. O Covid-19, no entanto, faz ver em poucos dias o que teríamos que atentar ao longo de anos, equivale dizer, a diferença gritante entre: a) as políticas neoliberais que em termos concretos abalam todas as iniciavas de seguridade social e de saúde, no caso brasileiro impondo limite de gastos e cortes atrozes, e; b) uma perspectiva em que o direito a vida é universal a medida que todos tem direito e acesso à tratamento da saúde. Alguns de nós viram, em pouco tempo, o impacto que possuir ou não atenção adequada a saúde das pessoas tem. Alguns de nós sensibilizaram-se com o desespero estampado na situação de adoecimento e morte de milhões de pessoas inicialmente em vários países que: vivem em guerra ou numa condição de pobreza; ou que são ricos mas não possuem saúde pública ou que seus equipamentos de saúde em vários níveis de complexidade estão precarizados; que possuem tecnologia mas não está disponível para a maioria das pessoas. Ainda pudemos ver países com uma cultura muito diferente da nossa, como os asiáticos, lidando melhor com a pandemia, muito embora, lançando mão de mecanismos autoritários. E por aí vai... É uma infinidade de coisas, de posicionamentos diferenciados em todo o mundo que chega a ser difícil discriminar e compreender.

Podemos ver, no entanto, que os posicionamentos são diferentes e que nenhum deles foi tomado por conta de um destino. São posicionamento humanos e que implicam certa forma de viver e consequências. Possivelmente, a vivência do desamparo faz-se ainda mais notória já que não há destino, depende de nós darmos rumos a nossa própria vida que está alinhada, sem sombra de dúvidas, a história e a política.

E, além disso, não podemos mais negar como a história e a política constituem a nossa singularidade a exemplo da experiência do desespero que atravessa o sofrimento psíquico como a ansiedade, processos depressivos e até mesmo o pensamento suicida. Se por um lado a vivência da desespero é atravessada pela impotência diante do que podemos decidir e fazer, por outro lado, a mesma vivência nos indica que existem saídas que ainda não vimos, portanto, no próprio desespero pode haver esperança. Estamos vivos e podemos optar pela vida.

Obs.: Quadro de Frida Kahlo (1907-1954), Moisés ou o Núcleo da criação.

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