A esperança é uma forma de viver as possibilidades que nos são
apresentadas. Mas também sustentar a crença de que podemos forjar nossas próprias possibilidades. Sonhar é bom e compartilhar nossas projeções com quem amamos e respeitamos é ainda melhor. Mediação é isso, nossas possibilidades compartilhadas e forjadas em ações em comum ou apoio para uma conduta singular crítica diante da sua consequência. Entretanto, para termos esperança precisamos de mediação, isto é, do outro, seja inseridos em coletivos seja no contexto íntimo e social.
Uma organização de coletivos que preserve a produção e acesso a itens básicos de saúde e conforto é uma condição para a experiência da segurança. Todo a sociedade possui coletivos, como se estrutura é uma escolha histórica. Tal forma pode proporcionar mais ou menos segurança. Na nossa sociedade os índices correspondentes ao sofrimento psíquico sinalizam que a experiência de insegurança é frequente e afeta muitas pessoas em todas as fases do desenvolvimento. Esse fato pode nos levar a questionar sobre a insegurança em nossa sociedade, sobretudo, diante das perspectivas de futuro.
A experiência, que é sempre singular, igualmente é situada no tempo e no espaço e envolve o outro em virtude da linguagem que é essa ligação presente com a cultura e com nossa historicidade. Por meio da linguagem significamos e designamos nossas experimentações. Por isso mesmo nossa experiência é o próprio movimento dialético quando nossa singularidade constitui e é constituída pela universalidade, isto é, a cultura em seus aspectos sociológicos e sócio-históricos. Só podemos realizarmo-nos mediante as possibilidades que a sociedade nos oferece ou utilizarmos dos mecanismos que temos para forjá-las. Um exemplo bastante atual disto é o uso da internet e dispositivos provenientes dela para estar junto com alguém ou um coletivo e criar possibilidades de ação e significação perante a pandemia, o isolamento e seus impactos sociais, políticos e econômicos.
Em todo caso, se circunstâncias sócio-histórica rouba-nos o futuro algo pode ser feito. Essa assertiva é bastante importante pois acentua uma visão de mundo que incita a esperança. A experimentação de uma sociedade inviabilizadora afeta a condição psicológica de seguir em frente. Sabemos, que são muitos os fenômenos psíquicos em que a inviabilização social ou sociológico é uma variável central. A condição da mulher em 1850 que contextualiza a histeria que acometia sobretudo mulheres. As clínicas médicas e consultórios, como de Freud, e os manicômios estavam cheios de mulheres diagnosticadas histéricas. Ou ainda quando na década de 50 era a esquizofrenia o sofrimento psíquico que possuía características epidêmicas, quando a libertação e a opressão estavam em pauta na maioria das famílias. Hoje, temos como sofrimentos psíquicos recorrente, a ansiedade, depressão e a ideação suicida que desvelam a vivência da inviabilização e da desesperança.
Quais os aspectos sociais e sociológicos implicados na ansiedade, na depressão e na ideação suicida? A solidão ou falta de mediações, a relação com a vida e as escolhas, isto é, o desamparo; a experiência do desespero diante da vivência da impossibilidade para a realização do desejo e, por fim, a desesperança. Então podemos cogitar como seria uma sociedade em que as pessoas vivenciassem a viabilização de seus desejos, desde os mais básicos, com mediação afetiva, intelectual, material e espiritual, que pudessem escolher-se sem ter medo do fracasso ou do sucesso seja profissional ou amoroso etc., e finalmente, que a esperança fizesse parte das narrativas, das experiências e das condutas? Quem sabe um dia possamos responder a esta pergunta.
Obs.: quadro Duas amigas, de Lasar Segall.
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